O Comitê de Cinema da UFOP (ComCine), apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica, inicia as atividades de 2009 em parceria com dois novos pontos de exibição dentro da Universidade: o ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais) e o ICEB (Instituto de Ciências Exatas e Biológicas).
Com isso haverá mais opções de lugares e horários para você acompanhar as sessões do ComCine! Tome nota:
SEGUNDAS-FEIRAS – Auditório do ICHS – 16:00
(Rua Cônego Amando, 161 – Mariana/MG)
QUINTAS-FEIRAS – Auditório do ICEB – 19:00
(Campus Morro do Cruzeiro – Ouro Preto/MG)
SEXTAS-FEIRAS – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
(Praça Reinaldo Alves de Brito – Ouro Preto/MG)
Todas as sessões são gratuitas, com filmes da Programadora Brasil – Central de Acesso ao Cinema Brasileiro.
E nestes primeiros meses do período a mostra é sua! Os filmes que serão exibidos são os mais votados das enquetes feitas no ComCine blog e na comunidade do ComCine no orkut. Não deixe de assistir!
Com isso haverá mais opções de lugares e horários para você acompanhar as sessões do ComCine! Tome nota:
SEGUNDAS-FEIRAS – Auditório do ICHS – 16:00
(Rua Cônego Amando, 161 – Mariana/MG)
QUINTAS-FEIRAS – Auditório do ICEB – 19:00
(Campus Morro do Cruzeiro – Ouro Preto/MG)
SEXTAS-FEIRAS – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
(Praça Reinaldo Alves de Brito – Ouro Preto/MG)
Todas as sessões são gratuitas, com filmes da Programadora Brasil – Central de Acesso ao Cinema Brasileiro.
E nestes primeiros meses do período a mostra é sua! Os filmes que serão exibidos são os mais votados das enquetes feitas no ComCine blog e na comunidade do ComCine no orkut. Não deixe de assistir!
Programação de abril:
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[#] O cinema de horror brasileiro em dois tempos do Ivampirismo. Em “O Universo de Mojica Marins”, Cardoso homenageia seu ídolo José Mojica Marins explorando sua obra e "seu satanismo bufo-baudelariano". Revela não apenas a singularidade de sua estética, mas também a criação de uma mitologia brasileira moderna na figura do Zé do Caixão, um ícone sem comparações. Com “As Sete Vampiras”, o cineasta desenvolve seu estilo próprio juntando elementos não apenas de Mojica, mas com citações abertas aos filmes de Alfred Hitchcock, a produções B de terror da década de 1950 e a chanchadas da era Atlântida. Esta mescla de elementos criou no final dos anos 1980 o neologismo crítico 'Terrir', onde a platéia não ri apenas do filme, mas com o filme.
:: AS SETE VAMPIRAS
De Ivan Cardoso
(RJ, 1986, ficção, cor, 86 minutos)
[longa] Na década de 50, o cientista Fred importa da África uma planta carnívora rara. Como o vegetal foi pouquíssimo estudado, ele prepara um antídoto contra seus possíveis efeitos. Mas não tem tempo de usá-lo. Quando sua esposa Sílvia, preocupada com o novo objeto de estudo do marido, deixa o trabalho e vai vê-lo em sua estufa de plantas é tarde demais. Silvia também é atacada. Uma série de crimes inexplicáveis em que as vítimas ficam totalmente sem sangue começa a acontecer
:: O UNIVERSO DE MOJICA MARINS
De Ivan Cardoso
(RJ, 1978, documentário, cor, 26 minutos)
[curta] A vida e a obra do ator, diretor e produtor paulista José Mojica Marins, penetrando em seu estúdio e mostrando seu mundo.
Sexta, 03 de Abril – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
Segunda, 13 de Abril – Auditório do ICHS – 16:00
Quinta, 30 de Abril – Auditório do ICEB – 19:00
ENTRADA FRANCA!
O MUNDO DE IVAN CARDOSO
Por José Roberto Rocha
Ivan Cardoso compartilha com boa parte do Cinema Marginal, movimento no qual começou sua carreira cinematográfica, um gosto irresistível pelo popular. Esta vocação é exercitada sem pudores em todos os seus filmes, desde os curtas-metragens em que estreou como diretor na década de 1970, até seus longas-metragens, em que o horror, a nudez e o humor se misturam em farsas deliciosamente filmadas. O popular muitas vezes é grosseiro e o diretor nunca se esquece disto; ao contrário, deleita-se encenando os mais variados absurdos. Toda sorte de criaturas sobrenaturais – múmias, vampiros, lobisomens – à solta no Brasil, mulheres nuas se ensaboando lascivamente diante da câmera, tramas rocambolescas repletas de situações cômicas: este é o mundo de Ivan Cardoso.
Muito apropriado, então, que “As Sete Vampiras”, grande sucesso de público lançado em 1986, se inicie com a chegada ao Brasil de uma planta carnívora africana capaz de transmutar em vampiros e que o filme se transforme em uma caçada a um assassino serial – devidamente “vampirizado” -, tendo como pano de fundo uma boate onde, é claro, dançarinas se apresentam com pouca ou nenhuma roupa. A deliciosa ambientação no Rio de Janeiro dos anos 1950 (capital dos Estados Unidos do Brasil) é devedora de um universo visual bastante particular onde se misturam revistas em quadrinhos, chanchadas, seriados televisivos e filmes baratos de gênero. Trata-se de homenagens bastante carinhosas que se integram ao filme sem o menor traço de auto-indulgência. Há, inclusive, uma frontalidade digna de uma declaração de princípios na forma como estas referências são apresentadas: o detetive interpretado por Nuno Leal Maia passa boa parte de seu tempo lendo gibis ostensivamente diante da câmera; o próprio Hitchcock apresenta o filme como fazia com os episódios de sua famosa série; grandes nomes da chanchada – Colé Santana, Wilson Grey e Zezé Macedo, entre outros - desfilam diante da câmera sem grandes funções narrativas. As Sete Vampiras é de uma honestidade apaixonante em mostrar o que interessa e, mais importante, da forma que interessa. Isso é o que faz dele uma obra tão especial.
Já “O Universo de José Mojica Marins”, curta do mesmo diretor, que complementa este programa, é um tratado a respeito da imensa fascinação exercida pelo criador do mítico Zé do Caixão, tanto por sua obra, como para além dela. Neste pequeno documentário, são intercaladas cenas de seus principais filmes com depoimentos, na grande maioria, do próprio José Mojica Marins. Desta forma franca, Ivan Cardoso consegue esboçar a visão apaixonada de cinema e de mundo de Mojica, talvez a figura que melhor represente sua idéia de cinema popular brasileiro.
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[~] Com desenvoltura rara para um estreante, o cineasta André Klotzel faz em A marvada carne uma homenagem ao universo da cultura caipira, vista aqui num embate com a cultura da cidade. Adaptação de uma peça teatral de Alfredo Soffredini, o filme também recorre à mitologia brasileira ao colocar em cena figuras como o Saci e o Curupira. Com nove Kikitos no Festival de Gramado, em 1984, é uma das comédias mais divertidas do moderno cinema brasileiro. Comportamentos urbanos também estão em pauta em Almoço executivo, curta assinado pela dupla Marina Person e Jorge Espírito-Santo, que partem de um fato corriqueiro para realizar uma comédia de humor imprevisível.
:: A MARVADA CARNE
De André Klotzel
(SP, 1985, ficção, cor, 77 minutos)
[longa] Nhô Quim vive lá nos cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Aquela vidinha besta no meio do mato não dá pé e ele resolve cair no mundo e procurar a solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o casório e comer a tal carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele. Nas suas andanças, Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó, cuja filha está em conflito com Santo Antônio, que não anda colaborando para ela arranjar um bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar seus dois maiores desejos?
:: ALMOÇO EXECUTIVO
De Jorge Espírito-Santo e Marina Person
(SP, 1996, ficção, cor, 14 minutos)
[curta] Cinco amigos se encontram para almoçar. Nada poderia ser mais corriqueiro. Mas por alguma razão, ninguém ficou para a sobremesa.
Segunda, 06 de Abril – Auditório do ICHS – 16:00
Quinta, 16 de Abril – Auditório do ICEB – 19:00
Sexta, 24 de Abril – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
Por José Roberto Rocha
Ivan Cardoso compartilha com boa parte do Cinema Marginal, movimento no qual começou sua carreira cinematográfica, um gosto irresistível pelo popular. Esta vocação é exercitada sem pudores em todos os seus filmes, desde os curtas-metragens em que estreou como diretor na década de 1970, até seus longas-metragens, em que o horror, a nudez e o humor se misturam em farsas deliciosamente filmadas. O popular muitas vezes é grosseiro e o diretor nunca se esquece disto; ao contrário, deleita-se encenando os mais variados absurdos. Toda sorte de criaturas sobrenaturais – múmias, vampiros, lobisomens – à solta no Brasil, mulheres nuas se ensaboando lascivamente diante da câmera, tramas rocambolescas repletas de situações cômicas: este é o mundo de Ivan Cardoso.
Muito apropriado, então, que “As Sete Vampiras”, grande sucesso de público lançado em 1986, se inicie com a chegada ao Brasil de uma planta carnívora africana capaz de transmutar em vampiros e que o filme se transforme em uma caçada a um assassino serial – devidamente “vampirizado” -, tendo como pano de fundo uma boate onde, é claro, dançarinas se apresentam com pouca ou nenhuma roupa. A deliciosa ambientação no Rio de Janeiro dos anos 1950 (capital dos Estados Unidos do Brasil) é devedora de um universo visual bastante particular onde se misturam revistas em quadrinhos, chanchadas, seriados televisivos e filmes baratos de gênero. Trata-se de homenagens bastante carinhosas que se integram ao filme sem o menor traço de auto-indulgência. Há, inclusive, uma frontalidade digna de uma declaração de princípios na forma como estas referências são apresentadas: o detetive interpretado por Nuno Leal Maia passa boa parte de seu tempo lendo gibis ostensivamente diante da câmera; o próprio Hitchcock apresenta o filme como fazia com os episódios de sua famosa série; grandes nomes da chanchada – Colé Santana, Wilson Grey e Zezé Macedo, entre outros - desfilam diante da câmera sem grandes funções narrativas. As Sete Vampiras é de uma honestidade apaixonante em mostrar o que interessa e, mais importante, da forma que interessa. Isso é o que faz dele uma obra tão especial.
Já “O Universo de José Mojica Marins”, curta do mesmo diretor, que complementa este programa, é um tratado a respeito da imensa fascinação exercida pelo criador do mítico Zé do Caixão, tanto por sua obra, como para além dela. Neste pequeno documentário, são intercaladas cenas de seus principais filmes com depoimentos, na grande maioria, do próprio José Mojica Marins. Desta forma franca, Ivan Cardoso consegue esboçar a visão apaixonada de cinema e de mundo de Mojica, talvez a figura que melhor represente sua idéia de cinema popular brasileiro.
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[~] Com desenvoltura rara para um estreante, o cineasta André Klotzel faz em A marvada carne uma homenagem ao universo da cultura caipira, vista aqui num embate com a cultura da cidade. Adaptação de uma peça teatral de Alfredo Soffredini, o filme também recorre à mitologia brasileira ao colocar em cena figuras como o Saci e o Curupira. Com nove Kikitos no Festival de Gramado, em 1984, é uma das comédias mais divertidas do moderno cinema brasileiro. Comportamentos urbanos também estão em pauta em Almoço executivo, curta assinado pela dupla Marina Person e Jorge Espírito-Santo, que partem de um fato corriqueiro para realizar uma comédia de humor imprevisível.
:: A MARVADA CARNE
De André Klotzel
(SP, 1985, ficção, cor, 77 minutos)
[longa] Nhô Quim vive lá nos cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Aquela vidinha besta no meio do mato não dá pé e ele resolve cair no mundo e procurar a solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o casório e comer a tal carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele. Nas suas andanças, Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó, cuja filha está em conflito com Santo Antônio, que não anda colaborando para ela arranjar um bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar seus dois maiores desejos?
:: ALMOÇO EXECUTIVO
De Jorge Espírito-Santo e Marina Person
(SP, 1996, ficção, cor, 14 minutos)
[curta] Cinco amigos se encontram para almoçar. Nada poderia ser mais corriqueiro. Mas por alguma razão, ninguém ficou para a sobremesa.
Segunda, 06 de Abril – Auditório do ICHS – 16:00
Quinta, 16 de Abril – Auditório do ICEB – 19:00
Sexta, 24 de Abril – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
ENTRADA FRANCA!
A COMIDA NO ESPAÇO URBANO E NO ESPAÇO RURAL
Por Marcelo Miranda
Dois espaços opostos, dois universos distintos. A princípio, e ao se olhar unicamente as sinopses, nada parece aproximar o longa "A marvada carne" (1985) do curta "Almoço executivo" (1996). Porém, assistir a um acompanhado do outro funciona não apenas na percepção de suas diferenças, mas muito mais nas semelhanças - sendo a maior delas a forma como cada realizador capta o ambiente escolhido a partir de um elemento comum: a comida.
A alimentação é o que faz o homem caminhar, e é dela que os personagens dos dois filmes saem à cata. No caso de A marvada carne, comida é mola-mestre da ação: o caipira Nhô Quim sonha em comer carne de boi e sai pela mata à procura do bicho. De quebra, ainda quer uma mulher com quem possa se casar. É através do contato de Quim e de sua futura esposa, Carula, que o diretor André Klotzel vai explorar o universo ao redor deles.
Mais que isso: Quim e Carula, e todos os demais personagens que os cercam, são partes intrínsecas desse universo. Para reafirmar a idéia presente ao longo de todo o filme, Klotzel filma os atores sempre em contato direto com o ambiente, e o ambiente a todo instante em conflito com os atores. Seja por meio de crendices populares (o curupira, o rio sem peixe, o nariz colado ao contrário, a negociação com o diabo) ou da simples captação de um cotidiano comum (a construção do casebre que será palco de festas, os almoços na beira da terra, os animais que rodeiam a fazenda), "A marvada carne" é composto por toda uma gama de símbolos nos quais Quim, Carula, Nhô Totó e Nhá Tomasa são integrantes indissociáveis.
É interessante também inserir A marvada carne dentro de um subgênero tipicamente brasileiro: os filmes "sertanejos", cuja imagem mais forte é a de Amacio Mazzaropi. Esse tipo de produção tem o humor firmado no jeito, ora ingênuo e ora matuto, do jeca roceiro - e sua interação com o outro, o estranho da cidade grande que eventualmente vai ludibriá-lo. Tais filmes costumam ter grande apelo popular por retratarem uma fatia da população relegada quase a último plano em todas as instâncias e totalmente ausente das salas de cinema. Trabalhos como os recentes "Tapete vermelho" (2006) e "Dois filhos de Francisco" (2005), além de "A marvada carne", servem como resgate de um olhar carinhoso e cúmplice àqueles que, de certa forma, guardam alguma virgindade no jeito de enxergar a realidade.
Por sua vez, "Almoço executivo" coloca o olho da câmera na cidade grande. Do encontro entre um grupo de amigos num restaurante, pipocam diversos incidentes que, na pouca duração do curta, servem de ilustração a um microcosmo do caos urbano. Estão lá os mais característicos comportamentos da selva metropolitana: trânsito congestionado, corre-corre, impaciência, abuso de poder. A dupla Marina Person e Jorge Espírito-Santo, responsável pelo filme, busca fazer um pequeno painel sócio-cultural dentro de um acontecimento cuja banalidade apenas torna mais grave suas conseqüências. Assim como A marvada carne em relação ao rural, Almoço executivo utiliza-se de signos do próprio espaço cênico para refletir o comportamento de quem está dentro desse espaço.
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[*] Incluído nos créditos de “Corisco e Dada”, o material de arquivo sobre as ações de Lampião e de seus comandados constitui uma introdução oportuna ao longa metragem, com destaque para a qualidade da trilha musical. O mascate Benjamin Abraão, autor das filmagens reais, aparece em momentos da ficção, a epopéia de Corisco e Dadá, contada por Regina Dourado a pescadores cearenses. A narrativa é construída por sucessão de episódios da vida dos protagonistas, com mitos infiltrados nos fatos históricos. Há citações esparsas ao Corisco de Glauber Rocha em “Deus e o diabo na terra do sol”. O curta de José Humberto é complemento perfeito ao filme de ficção. Em cenas documentais, entremeadas também com materiais de arquivo, Dadá já bem idosa relata os fatos da sua vida nos acampamentos de Lampião, do medo à pacificação, das alegrias às tensões da guerra desigual que, depois de 20 anos, dizimaria a revolta camponesa dos cangaceiros.
:: CORISCO E DADÁ
De Rosemberg Cariry
(CE, 1996, ficção, cor, 96 minutos)
[longa] O Capitão Corisco, cognominado de Diabo Loiro, reputado pela sua crueldade, sua valentia e sua beleza, rapta Dadá, quando esta tinha 12 anos de idade, condenando-a a difícil vida do cangaço. A partir daí, a vida do cangaceiro transforma-se por completo. Ele é um condenado de Deus cujo destino é lavar com sangue os pecados do mundo. Dadá, que a princípio o odiava, vê o companheirismo, entre lutas e dificuldades, transformar-se em amor. É o amor de Dadá que humaniza Corisco e determina sua nova história. A história de um amor impossível, uma visão trágica e fascinante do homem e do sertão.
:: A MUSA DO CANGAÇO
De José Umberto
(BA, 1982, documentário, PxB, 15 minutos)
[curta] Visão interna do cangaço feita por Dadá, mulher de Corisco, subtenente do grupo de Lampião. Ela presta um depoimento sobre sua vivência entre os cabras de Lampião, “o rei do cangaço”, destacando sua forma de organização como grupo, o modo de comportamento, a luta pela sobrevivência, os códigos de honra, as táticas de guerrilha aplicadas e os amores dos cangaceiros. O documentário se propõe revelar o papel da mulher e sua participação efetiva nesse fenômeno de luta armada no nordeste brasileiro.
Sexta, 17 de Abril – Cine-Teatro Vila Rica – 23:00
Quinta, 23 de Abril – Auditório do ICEB – 19:00
Segunda, 27 de Abril – Auditório do ICHS – 16:00
ENTRADA FRANCA!
DOIS OLHARES SOBRE UM AMOR SERTANEJO
Por João Carlos Sampaio
Uma história de amor e tragédia contada duas vezes. “Corisco & Dada”, longa-metragem de ficção do cearense Rosemberg Cariry, sublinha a voz do cangaceiro, cheia de questões sobre a vida e a morte no sertão. Enquanto que o curta documental “A Musa do Cangaço”, do sergipano José Umberto Dias, se faz feminino na voz da própria Dadá que exibe a mansidão das respostas cristalizadas pelos anos.
A primeira imagem do filme de Cariry é o mar, a quase antítese caudalosa da secura sertaneja. Na voz da contadora de histórias encarnada pela atriz Regina Dourado o engano se desfaz. Em tempo presente, ela prepara o espectador para a abundância de leituras da narrativa e avisa: “o sertão é mar”.
“Corisco & Dada” se ocupa, em parte, do relato de uma história conhecida. A menina-mulher arrancada do lar pelo cangaceiro vai ter a repulsa ao seu algoz metamorfoseada em paixão. Um amor que resiste à mortandade e ao ocaso do cangaço.
Sem se deter à mera reconstituição histórica, o diretor vai atrás dos significados dessa união homem-mulher, da razão de ser do banditismo, da vida esturricada pelo sol e pelo abandono. Evoca o simbólico país de São Saruê, referência do cordel e depois do cinema (clássico documentário do paraibano Vladimir Carvalho), que é o equivalente à bíblica Terra Prometida.
Corisco está à frente no título e na condução da história contada por Cariry. É ele que olhando o vazio avermelhado da caatinga vai ousar supor como seria a aliança do cangaço com a Coluna Prestes. Revolucionário, diz que o sertão precisa desaparecer e ser reinventado. A frase se ouve logo após a melodia da alegórica canção separatista "Nordeste Independente", de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova.
Tal qual “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, “Corisco & Dada” também se debruça sobre o cristianismo messiânico. O batismo às margens do rio Jordão é revisto no cenário sertanejo. Só que na testa do bebê do casal escorre sangue e não água. “Deus alumia minha pontaria”, diz Corisco (Chico Diaz). Ao que retruca Dadá (Dira Paes): “mas é o diabo que faz o fogo ser cuspido da boca do seu fuzil”.
Um bode, animal da região capaz de resistir à seca, é destrinchado num dos primeiros momentos do filme. Seus olhos são arrancados. Como as mãos lavadas de pilatos, o sertão não tem mãos (nem olhos) que dele se ocupem, é dor que não se vê.
Assim a figura serena da ex-cangaceira Dadá, uma mulher sexagenária no curta-metragem de José Umberto, é mais do que uma resposta mansa e feminina. É acalanto para toda a perda. O cangaço é, na lembrança dela, um tempo de fraternidade e alegria. A arma de fogo é comparada a um brinquedo, assim como é dito que a essência de Corisco é brandura e cavalheirismo.
Aquela avó e mãe que circula nas ruas de Salvador e manipula habilmente sua máquina de costura parece estar em paz. Ela conseguiu enterrar a cabeça cortada e insepulta do seu amor. Não por acaso, a imagem que encerra estes dói.
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O ComCine UFOP
Criado em 2004, o ComCine – Comitê de Cinema da Universidade Federal de Ouro Preto, é um grupo formado por pessoas de diversas áreas da universidade (alunos, professores e funcionários) e também da comunidade externa, reunidos todos pela admiração ao cinema. Seu principal objetivo é servir como fórum de discussão sobre o audiovisual, considerando a sua produção, circulação e recepção. Trabalha levando o melhor do cinema às pessoas, num processo de formação de público e olhar crítico. Em 2006, o Conselho Universitário (CUNI) aprovou seu regimento interno, reconhecendo-o como espaço privilegiado de discussão e deliberação sobre o audiovisual na UFOP.
Entre suas atividades, destacamos a curadoria da área de Artes Visuais (cinema, vídeo, fotografia) do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2007 e 2008, além da elaboração de mostras regulares ao longo do ano, compostas por filmes temáticos e alternativos, em sessões gratuitas e, por vezes, itinerantes, nestas mesmas cidades. Uma vez a cada período letivo da universidade, promove a "Conversando Cinema": a mostra de filmes comentados por professores, às 21h, no Cine-Teatro Vila Rica, com duração de uma semana e entrada gratuita.
As reuniões são abertas a todos os interessados, para, entre uma discussão e outra, planejar mostras gratuitas, sugerir filmes para a programação do Cine-Teatro Vila Rica – o qual faz parte do patrimônio da UFOP – e criar novas idéias para estimular a comunidade a interessar-se por esta que é chamada a Sétima Arte.
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