A ditadura no Brasil [1964-1985]
de 11 a 21 de maio no Campus Morro do Cruzeiro (Escola de Minas) - Ouro Preto
Mostra de Filmes
Tempo fora dos eixos:
ditadura e alegoria nacional
Programação:
HÉRCULES 56
De Silvio Dá-Rin
(Brasil, 2006, documentário, cor, 94 minutos)
Seguido de debate com o diretor do filme.
Sinopse: Em setembro de 1969, o avião Hércules 56 da FAB levou ao México quinze presos políticos trocados pelo embaixador dos EUA, seqüestrado por um grupo revolucionário. Trinta e seis anos depois, nove remanescentes do grupo e cinco membros das organizações responsáveis pelo seqüestro rememoram a ação e discutem a luta armada contra a ditadura militar.
Sexta, 24 de Abril, 17:30 - Auditório do ICHS - Mariana
Quinta, 30 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
CABRA MARCADO PARA MORRER
De Eduardo Coutinho
(Brasil, 1964-1984, documentário, PxB/cor, 119 minutos)
Sinopse: Em 1962, o líder da liga Camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida, reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato, começa a ser rodado em 1964, com a produção do CPC da UNE e do Movimento de Cultura Popular (MCP) de Pernambuco, e direção de Eduardo Coutinho. As filmagens, com a participação de camponeses do Engenho Galiléia (PE) e da viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, são interrompidas pelo militar de 31 de março de 64. Dezessete anos depois, em 1981, Eduardo Coutinho retoma o projeto e procura Elizabeth Teixeira e outros participantes do filme interrompido. O tema central passa a ser a história de cada um deles que, estimulados pela filmagem e revendo as imagens do passado, elaboram para a câmera os sentidos de suas experiências.
Sábado, 25 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
Segunda, 4 de Maio, 19:00 - Auditório do ICHS - Mariana
OS INCONFIDENTES
De Joaquim Pedro de Andrade
(Brasil, 1972, ficção, PxB/cor, 100 minutos)
Sinopse: História da conspiração de uma elite social - padres, juízes, poetas, militares - para libertar o Brasil da opressão portuguesa em fins do século XVIII. Em meio ao grupo, um suboficial, o alferes Joaquim da Silva Xavier, conhecido como o Tiradentes, é o mais disposto a levar às últimas conseqüências a sonhada revolução. Durante três anos de prisão incomunicável, sucedem-se interrogatórios, ameaças e horrores que torcem a idéia, o caráter e a memória dos presos. Tiradentes é torturado para confessar sua participação na insurreição contra a coroa portuguesa. Os demais envolvidos procuram se isentar da responsabilidade maior e Claudio Manoel mata-se na prisão. Tiradentes assume a culpa. A rainha comuta a pena capital a todos e o enforcamento do suboficial é encenado diante de um grande público. Seguem-se as homenagens contemporâneas ao mártir.
Domingo, 26 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
Terça, 5 de Maio, 19:00 - Auditório do ICHS - Mariana
MEMÓRIAS DO CÁRCERE
De Nelson Pereira dos Santos
(Brasil, 1984, ficção, cor, 173 minutos)
Sinopse: Após a Intentona Comunista, o escritor Graciliano Ramos é acusado de filiações comunistas e preso, o que inicialmente lhe parece a possível libertação de uma vida enfadonha com a mulher, o emprego público e o provincianismo de sua cidade. A crueldade do que vê na prisão é suportada pela dedicação à literatura, enquanto sua esposa e um advogado procuram meios para libertá-lo. Os prisioneiros o tratam com carinho, pois querem sair 'no livro', mas a doença começa a minar seu corpo.
Segunda, 27 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
Quarta, 6 de Maio, 19:00 - Auditório do ICHS - Mariana
MEMÓRIAS DO SUBDESENVOLVIMENTO
De Tomás Gutiérrez Alea
(Cuba, 1968, ficção, PxB, 97 minutos)
Sinopse: Retrato lúcido e poético de Cuba no começo dos anos 60, Memórias do Subdesenvolvimento é considerado um clássico do cinema latino-americano. O mestre Tomás Gutiérrez Alea oferece um olhar ao mesmo tempo carinhoso e crítico sobre os rumos da revolução de Fidel Castro, narrado pelos olhos de Sérgio, um homem que aos 38 anos se vê subitamente sozinho em Havana, depois que sua mulher e seus pais resolvem migrar para os Estados Unidos. Ao acompanhar Sérgio, o espectador é convidado a passear pelas ruas da capital cubana e a encontrar personagens reais, num filme que mistura com habilidade recursos da ficção e do documentário.
Terça, 28 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
Quinta, 7 de Maio , 19:00 - Auditório do ICHS - Mariana
CABEÇAS CORTADAS
De Glauber Rocha
(Brasil/Espanha, 1970, ficção, cor, 90 minutos)
Sinopse: Dentro de um castelo, em alguma parte do Terceiro Mundo, Diaz, uma espécie de rei sem coroa, tem lembranças delirantes. Em sonho, Diaz realiza uma viagem, escraviza índios, trabalhadores e camponeses. Nesta viagem, ele descobre suas origens. Estão em Eldorado, onde ele tem grande poder político. Diaz tem novas visões: suas vítimas ameaçam destruí-lo. Um pastor o amedronta e o fascina. Nos arredores do castelo, o pastor realiza milagres para o povo. O delírio de Diaz cresce à medida que percebe já não ter nenhum poder.
Quarta, 29 de Abril, 17:00 - Cine-Teatro Vila Rica - Ouro Preto
Sexta, 8 de Maio, 19:00 - Auditório do ICHS - Mariana
Tempo fora dos eixos: ditadura e alegoria nacional
Num texto datado de 1986, o crítico norte-americano Fredric Jameson apontava a alegoria nacional como o horizonte inultrapassável da estética do Terceiro Mundo. Em registro que fazia pouco ou nada para disfarçar sua crispação polêmica, o raciocínio central do texto de Jameson tinha como ponto de partida comunidades marcadas por fraturas violentíssimas, cujo correlato seriam formas visceralmente indóceis ao conforto das totalizações orgânicas. No entanto, embora não seja difícil enumerar exemplos que a relativizem, é no mínimo curioso perceber como, se tomada menos como regra que como princípio heurístico, a hipótese de Jameson lança uma poderosa luz sobre algumas das mais marcantes ficções latino-americanas pós-ditatoriais, como é o caso dos filmes reunidos na presente mostra.
Panorama que está longe de aspirar à exaustividade, a grande qualidade dessas obras - sob tantos aspectos tão diversas - é aliar a intransigência na busca da verdade a uma inquieta lucidez sobre os limites inerentes à representação, traço no qual se pode reconhecer a filiação dos diretores às melhores tradições do cinema moderno, de Rosselini em diante. Cobrindo desde a alegorese alucinada de um Glauber Rocha até o vigoroso realismo de um Nelson Pereira dos Santos, desde a implacável sondagem memorialística de um Eduardo Coutinho até a sobriedade brechtiana de um Joaquim Pedro de Andrade, a narrativa implicitamente evocada por essa soma sem síntese dá a ver o pesadelo da história como um fantasma que não cessa de se reinscrever na teia de ecos e ressonâncias unindo essas intransferíveis e por vezes até antagônicas dicções autorais. Ao mesmo tempo, na medida em que recusam o caminho fácil das pseudo-catarses, esses filmes encenam o luto político como uma tarefa tão necessária quanto impossível, fardo do qual nenhum espectador poderá se eximir de tomar parte. Pela felicidade como articulam problema e modo de exposição, são uma bela e contundente prova, cada qual ao seu modo, de que, muito mais importante que fazer filmes políticos, é saber filmar politicamente.
Emílio Maciel
Realização:
ComCine UFOP – Comitê de Cinema da Universidade Federal de Ouro Preto
ProEx UFOP – Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto
ICHS – Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP
Agradecimentos:
Centro Técnico Audiovisual
Cinemateca Brasileira
Arquivo Nacional
Filmes do Serro
Tempo Glauber
LC Barreto
Regina Filmes
Centro de Criação de Imagem Popular – CECIP
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