O Comitê Aberto de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a mostra de filmes brasileiros do primeiro pacote da Programadora Brasil. As sessões são gratuitas, acontecendo todas as sextas-feiras, às 23 horas, no Cine-Teatro Vila Rica.
Nesta semana, dois filmes. O primeiro, um curta-metragem. Logo em seguida, o longa. Esta dupla de filmes nos permite entender de maneira crítica um momento particular da história do cinema nacional. São eles:
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ACOSSADA
De Karen Black e Karen Akerman
(RJ, 2005, ficção, p&b, 7 minutos.)
Este curta ironiza o batizado "cinema da retomada" nacional, gerado na década de 90, por meio de uma releitura de "Acossado", clássico de Jean-Luc Godard. Isto através da história de uma francesinha perdida no Rio de Janeiro que depara-se com mafiosos do cinema brasileiro. Quem poderá salvá-la?
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ESTORVO
De Ruy Guerra
De Ruy Guerra
(RJ / Havana, 1998, ficção, cor, 95 minutos.)
Adaptação do livro homônimo de Chico Buarque, o filme assinala uma ruptura com a linguagem hegemônica do cinema brasileiro dos anos 90. Por meio de uma estrutura circular, subjetiva, pautada pela dissolução do espaço e do tempo, reproduz o pesadelo existencialista de um personagem anônimo que vaga por uma grande cidade de hoje. Depois de uma noite mal dormida, o protagonista acorda com a campainha da porta tocando insistentemente. Pelo olho mágico, vê um desconhecido de terno e gravata, barba e cabelos longos, que lhe lembra alguém que não consegue identificar. Não sabe por que aquele homem está ali nem o que pode querer, mas tem uma certeza imediata: ele representa uma ameaça para sua vida. E assim se inicia uma alucinante perseguição através da cidade. Trilha sonora assinada por Egberto Gismonti.
Data: Sexta-feira, 25 de abril
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23h00
ENTRADA FRANCA
A PROVOCAÇÃO NA ORDEM DO DIA
Fernando Veríssimo
"Um filme do Cinema Novo na era do videoclipe": assim o diretor de fotografia Marcelo Durst definiu, à época de seu lançamento, o estilo de Estorvo, adaptação do romance homônimo de Chico Buarque pelo lendário Ruy Guerra.
O próprio realizador insistia, em mais de uma entrevista, que seu filme não se distanciava das propostas originadas do movimento (de que foi um dos fundadores e representantes mais talentosos e inovadores), situando a experiência de Estorvo num contexto dominado pelo mal-estar e repulsa generalizados diante de projetos mais arriscados, e pela subserviência a uma proposta de cinema de fácil assimilação, que buscava a todo custo a benção do mercado.
Nada mais coerente no cinema de Guerra, que conta com uma longa carreira que pode ser qualificada, na falta de melhor definição, por uma postura de desafio. Foi assim desde o início, quando as platéias se viram chocadas diante de sua própria crueldade, ao testemunharem a corpo da musa Norma Bengell exposto ao estupro de uma câmera estática em Os Cafajestes (1962) – um dos marcos do cinema brasileiro, que nos apresentava a um novo e impressionante modo de filmar.
Ali se revelava, pela primeira vez, um improvável (porém sólido) ponto de contato entre uma das mais frutíferas e cosmopolitas correntes do cinema moderno – a Nouvelle Vague francesa – e uma das mais radicais interpretações da realidade nacional no século XX – cristalizada no conjunto da obra do Cinema Novo. Quase quarenta anos depois, Estorvo surge, necessário, para reinstituir a provocação na ordem do dia, dominada pela falsa ordem das imagens publicitárias, limpas, estéreis, ou artificialmente sujas.
Pois é no território do delírio, do caos, que se instala essa experiência brutal de perda de referência − uma experiência de devaneio e de territorialidade, uma afirmação brusca e agressiva, de ranger de dentes contra as coisas sãs e apagadas. O império do excesso e da exceção, ao mesmo tempo turvo e cristalino − dizia-se de Kafka que seu problema fosse talvez o de excesso de clareza.
Testemunho e homenagem a essa postura desafiadora, o curta-metragem Acossada (Karen Akerman e Karen Black), que completa o programa, refaz a seu modo particular (no referencial que sintetiza e incorpora Sganzeria e Godard) este percurso que tem na origem e no fim a figura ímpar de Ruy Guerra.
Fique ligado nos próximos filmes da mostra:
sex 09/05 – "Terra Estrangeira" (de Walter Salles e Daniela Thomas)
sex 16/05 – "Amores" (de Domingos de Oliveira) e "Amar..." (de Carlos Gregório)
sex 23/05 – "Baile Perfumado" (de Paulo Caldas e Lírio Ferreira) e "O Homem da Mata" (de Antonio Luiz Carrilho)
sex 06/06 - "Bebel, Garota Propaganda" (de Maurice Capovilla)
sex 20/06 – "O Prisioneiro da Grade de Ferro" (de Paulo Sacramento)
sex 27/06 – "Amarelo Manga" (de Cláudio Assis) e "A Canga" (de Marcus Vilar)
sex 04/07 – "Super Outro" (de Edgar Navarro)
EM CARTAZ...
Nesta sexta, também no Cine-Teatro Vila Rica, entra em cartaz em sua programação comercial, o filme "4 MESES, 3 SEMANAS, 2 DIAS", numa iniciativa conjunta com o ComCine, que visa a utilização acadêmica do Cine-Teatro de forma mais intensiva, através de um processo de formação de público de forma continuada. A idéia é garantir à programação do nosso cinema um ganho em termos de diversidade e qualidade dos filmes que são apresentados, sem comprometer a sustentabilidade econômica deste importante órgão.
O filme fica em cartaz de sexta a quinta (25 a 30 de abril), às 21 horas. A direção é de Cristian Mungiu. Confira a sinopse:
Em 1987, nos últimos dias do comunismo, Otilia (Anamaria Marinca) e Gabita (Laura Vasiliu) dividem um quarto num dormitório estudantil. Elas são colegas de classe na universidade de uma pequena cidade romena. Gabita está grávida e o aborto é ilegal no país. Otilia aluga um quarto num hotel barato. Lá elas recebem um certo Sr. Bebe (Vlad Ivanov), chamado para resolver a questão. Mas, ao saber que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia informado, Sr. Bebe aumenta as exigências para o serviço e cobrando um preço que as duas não estão preparadas para pagar.
Programação completa do Cine-Teatro Vila Rica:
4 MESES, 3 SEMANAS, 2 DIASDe Cristian Mungiu (4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile)
Romênia, 2007, ficção, cor, 113 min
Sexta a quinta – 21:00
RAMBO 4
Sexta a Quinta – 19:00
HORTON E O MUNDO DOS QUEM
Sexta a Quinta 17:30 / Sábado e Domingo 16:00 e 17:30 / Matinal Domingo 10:00
O Cine-Teatro Vila Rica fica na Praça Reinaldo Alves de Brito, 47, Centro, em Ouro Preto. Os ingressos custam R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia-entrada) nas sextas, sábados, domingos e feriados; R$7,00 (inteira) e R$3,50 (meia-entrada) nas segundas, terças e quintas; R$3,00 nas quartas-feiras; e R$4,00 nas matinês de domingo.
Contato: 3552-3803 - cinema@ouropreto.com.br
Contato: 3552-3803 - cinema@ouropreto.com.br
O ComCine UFOP
Criado em 2004, o ComCine – Comitê Aberto de Cinema da Universidade Federal de Ouro Preto, é um grupo formado por pessoas de diversas áreas da universidade (alunos, professores e funcionários) e também da comunidade externa, reunidos todos por um sentimento comum de amor ao cinema. Seu principal objetivo é servir como fórum de discussão sobre o audiovisual, considerando a sua produção, circulação e recepção. Trabalha levando o melhor do cinema às pessoas, num processo de formação de público e olhar crítico. Em 2006, o Conselho Universitário (CUNI) aprovou seu regimento interno, reconhecendo-o como espaço privilegiado de discussão e deliberação sobre o audiovisual.
Entre suas atividades, destacamos a curadoria da área de Artes Visuais do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, além da elaboração de mostras regulares ao longo do ano, compostas por filmes temáticos e alternativos, em sessões gratuitas e, por vezes, itinerantes, nestas mesmas cidades. O principal evento atual é o "Cineclube ComCine", que acontece todas as sextas-feiras, às 23h, no Cine-Teatro Vila Rica, com entrada franca. E uma vez em cada período letivo da universidade, promove a "Conversando Cinema": a mostra de filmes comentados por professores, às 21h, no Cine-Teatro Vila Rica, com duração de uma semana.
As reuniões são abertas a todos os interessados, para, entre uma discussão e outra, planejar mostras, sugerir filmes para a programação do Cine-Teatro Vila Rica – o qual faz parte do patrimônio da UFOP, administrado pela FEOP – e criar novas idéias para estimular a comunidade a interessar-se por esta que é chamada a Sétima Arte.
As reuniões acontecem todas as quartas-feiras, às 18:00, no IFAC (Rua Coronel Alves, 55 - Centro - OP). Venha para o ComCine
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