quarta-feira, 4 de junho de 2008

BEBEL, GAROTA PROPAGANDA



O Comitê Aberto de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a mostra de filmes brasileiros do primeiro pacote da Programadora Brasil. As sessões são gratuitas, acontecendo todas as sextas-feiras, às 23 horas, no Cine-Teatro Vila Rica.

Nesta semana:

BEBEL, GAROTA PROPAGANDA

De Maurice Capovilla
(SP, 1967, ficção, p&b, 103 minutos)


Saída de bairro pobre de São Paulo, uma garota procura a fama na publicidade e na televisão, por meio de ligações amorosas com um jornalista, um ricaço, um produtor de TV e um publicitário. Ao ser contratada como modelo de anúncio de sabonete, imagina que sua vida vai mudar para melhor. Baseado em texto de Ignácio de Loyola Brandão, este é o primeiro longa-metragem de Maurice Capovilla, feito com poucos recursos e com a colaboração do cineasta Roberto Santos. A partir da trajetória desta moça ansiosa por sucesso, o filme questiona os valores veiculados pela indústria cultural e a banalização da mulher. Com Rossana Ghessa, John Herbert, Paulo José, Geraldo d'el Rey, Washington Fernandes , Maurício do Valle, Fernando Peixoto, Joana Fomm, Apolo Silveira, Norah Fontes.


Data: Sexta-feira, 06 de junho
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23h00


ENTRADA FRANCA



LUZES EFÊMERAS
Por Carlos Alberto Mattos

Os originais do romance “Bebel que a Cidade Comeu” ainda estavam datilografados e sem título quando Maurice Capovilla escreveu sua adaptação para o cinema. Capovilla e o escritor Ignácio de Loyola Brandão eram colegas de jornal e de boemia na noite paulistana de 1967. Naquele ambiente, enquanto bebiam e criavam, artistas e intelectuais também se preocupavam com as diabólicas engrenagens da indústria cultural.

Bebel, Garota Propaganda, o filme, acabou por refletir tudo isso, na forma de uma crônica social e política da vida urbana brasileira naquela década. As cenas foram rodadas em bares, restaurantes e estúdios de TV freqüentados pelo show business da época, com participação de diversos cantores, jornalistas e cineastas no elenco. A protagonista, moça pobre vinda de bairro popular, é contratada como modelo de anúncio de sabonete e passa a alimentar sonhos de fortuna e estrelato. No entanto, como toda figura de outdoor cujo destino é ser rapidamente encoberta pela próxima atração, Bebel também verá as luzes se apagarem sobre ela.

Em seu primeiro longa-metragem, Capovilla já sinalizava o grande tema de sua carreira: a curta vida dos heróis de pés-de-barro. Ele talvez seja o autor que mais trabalhou o tema da ascensão e da decadência no cinema brasileiro, tanto em documentários (Subterrâneos do Futebol, O Último Dia de Lampeão), como em filmes de ficção (O Profeta da Fome, O Jogo da Vida, Harmada). Bebel integra-se à perfeição nesse cortejo de personagens que a sociedade se encarrega de iludir e conduzir a um inevitável fracasso.

Mas esse raro e legítimo representante do Cinema Novo paulista é também uma reflexão sobre os impasses da esquerda num momento em que a ditadura militar ainda apresentava sua face menos sinistra. Capovilla criou para seu amigo Fernando Peixoto um papel que não existia no livro de Brandão, o do jornalista no encalço de Bebel. Era uma forma de o cineasta veicular suas próprias indagações sobre o tema. Da mesma maneira, inventou a cena em que o estudante engajado deixa patente sua alienação frente à realidade do bairro operário. Assim como Terra em Transe, que Glauber Rocha faria logo em seguida, Bebel também confronta os discursos sobre “o povo” com o povo de verdade.

O filme se destaca, ainda, pela caracterização da atriz Rossana Ghessa e pela fotografia de Waldemar Lima (o mesmo de Deus e o Diabo na Terra do Sol). O modelo, aqui, não eram as imagens brutas do cordel nordestino, mas o brilho noturno e enganador da publicidade.



Fique ligado nos próximos filmes da mostra:

sex 20/06 – "O Prisioneiro da Grade de Ferro" (de Paulo Sacramento)

sex 27/06 – "Amarelo Manga" (de Cláudio Assis) e "A Canga" (de Marcus Vilar)

sex 04/07 – "Super Outro" (de Edgar Navarro)


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