quarta-feira, 18 de junho de 2008

O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO

O Comitê Aberto de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a mostra de filmes brasileiros do primeiro pacote da Programadora Brasil. As sessões são gratuitas, acontecendo todas as sextas-feiras, às 23 horas, no Cine-Teatro Vila Rica.

Nesta semana:

O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO
De Paulo Sacramento
(SP, 2004, documentário, cor, 123 minutos)

Documentário produzido a partir de uma oficina realizada pelo diretor e sua equipe com os presidiários e funcionários da Casa de Detenção de São Paulo – Carandiru – o maior presídio da América Latina (na época), um ano antes de sua desativação. Feito a partir da reunião de fragmentos captados pelos próprios presidiários, o filme escapa da mera denúncia e do didatismo para favorecer a experiência e o ponto de vista dos que vivem no cárcere.

“Sem sua seqüência inicial e sua seqüência final, ‘O Prisioneiro da Grade de Ferro’ seria um dos mais importantes documentários já feitos no Brasil e um dos filmes mais impressionantes sobre seu tema, em qualquer lugar ou época. Com estas duas seqüências que inauguram e fecham seu discurso, o filme passa desta categoria para a de obra-prima indiscutível.”
(Eduardo Valente
In: http://www.contracampo.com.br/58/prisioneirocineclube.htm)


Data: Sexta-feira, 20 de junho
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23:00

ENTRADA FRANCA




RETRATOS ÍNTIMOS: O COTIDIANO DO CARANDIRU
Por Paulo Santos Lima

Em uma cena de “O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto-Retratos)”, Dennison Ramalho, aqui assistente de direção, empresta uma câmera a um detento pela estreita escotilha do “Amarelo”, uma das cerradíssimas celas de segurança máxima do complexo carcerário do Carandiru. Fica claro, aqui, que a equipe de filmagem consegue ir até certo ponto (o mais profundo, aliás, que alguém de fora dali já conseguiu chegar) e a mini DV é quem segue adiante, sem limites, operada pelos detentos e tendo um acesso mais íntimo àquele dramático espaço.

À parte essa liberdade suprema da câmera, é seu empréstimo que se faz emblemático neste documentário. É com ele que o diretor Paulo Sacramento dilui sua autoridade como diretor e autor do longa, repartindo o controle com os presos durante as filmagens. Um gesto raro num documentarismo que, de praxe, é feito para justificar teses previamente concebidas. Sacramento e sua equipe chegam ao Carandiru sem uma verdade pronta e tampouco pretendendo encontrá-la. Não há, também, nenhuma intenção de se desenhar um painel que junte as várias verdades dos presidiários. É mais uma experiência coletiva, sob a coordenação de Sacramento e sua equipe – tanto que foi ele, mais a montadora, Idê Lacerda, que editaram o material de 170 horas.

Os workshops que precederam os sete meses de filmagens, em 2001, também justificam esse trabalho em grupo, e a evidência dessa parceria se dá na imagem: não há distinção visual entre o material filmado pelo fotógrafo Aloysio Raulino e aquele filmado pelos presidiários. Mesmo os sons, ruídos e músicas foram captados ali e editados fora da casa de detenção.

Esse livre trânsito cruzado a muralha do presídio é fruto de uma confiança mútua que se fez fundamental para que “O Prisioneiro da Grade de Ferro” desse conta do seu projeto, que é captar o cotidiano desses homens órfãos de liberdade.

Neste reality show, são os presos que se expressam, libertos do típico determinismo dos noticiários. Nesse passeio íntimo, o filme de Sacramento descobre semelhanças entre o mundo do Carandiru e o que está para além de suas muralhas. As desigualdades entre a “periferia” (as selas do “Amarelo”, superlotadas e mantendo os criminosos em condições animais) e os cárceres enfeitados com televisão. As atividades corriqueiras, como lavar o chão, jogar futebol, fazer compras, passar pelo médico, sonhar pela grade do xilindró com a alegria de fogos de artifício que estouram no horizonte. Nada mais verdadeiro sobre os prisioneiros do que mostrá-los em suas atividades mais corriqueiras, criando vida naquele terreno de morte da Casa de Detenção.

E ao dar a esses homens imagens que lhes servem mais como espelhos, “auto-retratos”, o filme os recoloca na memória – eles que, removidos do local, tiveram a desgraça apagada do imaginário coletivo quando o presídio foi desativado e destruído, em 2002. Por isso a primeira seqüência, a da implosão do Carandiru mostrada de trás para frente, com os pavilhões levantando-se dos seus escombros. “O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto-Retratos)” devolve a existência a esses homens através da imagem.



Fique ligado nos próximos filmes:

sex 27/06 – "Amarelo Manga" (de Cláudio Assis) e "A Canga" (de Marcus Vilar)

sex 04/07 – "Super Outro" (de Edgar Navarro)




O ComCine UFOP

Criado em 2004, o ComCine – Comitê Aberto de Cinema da Universidade Federal de Ouro Preto, é um grupo formado por pessoas de diversas áreas da universidade (alunos, professores e funcionários) e também da comunidade externa, reunidos todos por um sentimento comum de amor ao cinema. Seu principal objetivo é servir como fórum de discussão sobre o audiovisual, considerando a sua produção, circulação e recepção. Trabalha levando o melhor do cinema às pessoas, num processo de formação de público e olhar crítico. Em 2006, o Conselho Universitário (CUNI) aprovou seu regimento interno, reconhecendo-o como espaço privilegiado de discussão e deliberação sobre o audiovisual.

Entre suas atividades, destacamos a curadoria da área de Artes Visuais do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, além da elaboração de mostras regulares ao longo do ano, compostas por filmes temáticos e alternativos, em sessões gratuitas e, por vezes, itinerantes, nestas mesmas cidades. O principal evento atual é o "Cineclube ComCine", que acontece todas as sextas-feiras, às 23h, no Cine-Teatro Vila Rica, com entrada franca. E uma vez em cada período letivo da universidade, promove a "Conversando Cinema": a mostra de filmes comentados por professores, às 21h, no Cine-Teatro Vila Rica, com duração de uma semana e entrada gratuita.

As reuniões são abertas a todos os interessados, para, entre uma discussão e outra, planejar mostras, sugerir filmes para a programação do Cine-Teatro Vila Rica – o qual faz parte do patrimônio da UFOP, administrado pela FEOP – e criar novas idéias para estimular a comunidade a interessar-se por esta que é chamada a Sétima Arte.

Nenhum comentário: