terça-feira, 2 de setembro de 2008

"MACUNAÍMA" e curtas "CLÁSSICOS E MODERNOS"

O Comitê de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a programação do Cineclube ComCine deste segundo semestre de 2008. Agora com uma novidade: um novo ponto de exibição, em parceria com o Museu da Inconfidência de Ouro Preto.

Serão duas sessões diferentes por semana, todas com filmes da
Programadora Brasil – Central de Acesso ao Cinema Brasileiro: às quintas-feiras, 19h30min, no Anexo do Museu da Inconfidência, e às sextas-feiras, 23h, no Cine-Teatro Vila Rica. Todas as sessões têm entrada gratuita.



Nesta quinta-feira:

:: MACUNAÍMA
De Joaquim Pedro de Andrade
(RJ, 1969, ficção, cor, 105 minutos)

Macunaíma é a história de um anti-herói, ou “um herói sem nenhum caráter”, nascido no fundo da mata virgem. De preto vira branco e troca a mata pela cidade, onde vive incríveis aventuras, acompanhado de seus irmãos. Na cidade, segue um caminho zombeteiro, conhecendo e amando a guerrilheira Ci e enfrentando o vilão milionário, Venceslau Pietro Pietra, para reconquistar o amuleto que herdara de Ci, o muiraquitã.

Com a adaptação da rapsódia de Mário de Andrade, Macunaíma inova a estética do movimento cinemanovista ao incorporar elementos da chanchada, através da atuação de Grande Otelo, e transfigurar fatos da vida política, que invadem o relato épico das andanças de seu protagonista entre figuras da mitologia popular brasileira. Filme emblemático do final da década de 1960, Macunaíma atualiza o legado do Modernismo e estabelece a tão buscada relação do Cinema Novo com o grande público.

Data: Quinta, 4 de setembro
Local: Anexo do Museu da Inconfidência
Hora: 19:30

ENTRADA FRANCA



QUEBRANDO PARADIGMAS PELA GRAÇA
Por Luiz Joaquim

Não há como evitar o riso logo na primeira imagem projetada por Macunaíma, a adaptação realizada por Joaquim Pedro de Andrade em 1969 para o homônimo romance modernista escrito por Mário de Andrade em 1928. É um riso que vem pelo absurdo da situação mostrada, com Paulo José aos berros, travestido como uma velha a parir o bebê Grande Otelo; e é um riso que encontra mais fôlego no despojamento das relações entre si e com o universo que cerca os personagens brasileiros em foco no filme.

Quatro décadas separam a obra literária da cinematográfica e cada uma, a seu modo e em seu terreno de funcionamento, quebrou paradigmas narrativos e discursivos. Se no romance Mário de Andrade chamava a atenção para as raízes do Brasil e seu folclore, tentando imitar na escrita o modo de falar e os provérbios do brasileiro (“sonhei que caía meu dente, é morte de parente”) e assim desvinculando-se do Romantismo, o filme de Joaquim Pedro é reconhecido como um dos derradeiros representantes do Cinema Novo, mas utilizando-se de concepções estética rejeitadas pelo movimento e com características mais próximas da Chanchada. O humor é seu bastião maior para sugerir uma reflexão sobre a realidade brasileira.

O resultado foi espetacular. Macunaíma foi considerado por muitos (crítica e público) o melhor filme brasileiro de 1969. Além de eleito melhor filme no Festival de Mar del Plata e de Brasília (onde arrebatou também os troféus Candangos de cenografia, figurino e melhor ator para Grande Otelo e coadjuvante para Jardel Filho), a obra ficou por quase um ano em cartaz circulando pelo País, levando multidões aos cinemas.

A popularidade vinha pelas gargalhadas e as gargalhadas vinham pela identificação com o “herói de nossa gente” e suas presepadas. É um Macunaíma negro (Grande Otelo), que pula de felicidade ao ficar branco (Paulo José) quando passa por uma fonte milagrosa, e cujo expressão preferida é “Ai, que preguiça!”. O “nosso herói” é um sem caráter que adora dinheiro e as sem-vergonhices do sexo, além de sua rede (não necessariamente nesta ordem).

Sob uma trilha sonora que oferece de Francisco Alves e Silvio Caldas até Roberto Carlos e Jorge Ben, e apoiado por um elenco estupendo, orientado para encontrar na extravagância da caricatura a expressão adequada a compor está fábula, Joaquim Pedro consegue criar uma atmosfera única no cinema nacional. Fala do Brasil e do brasileiro fazendo-o rir de sua moral, virtude e vício.

Seja quando Macunaíma é perseguido pelo Curupira a gritar “carne da minha perna”; seja no discurso em praça pública num “feriado inventado” – quando nosso herói se rebela dizendo que o símbolo do Brasil não são as estrelas do Cruzeiro do Sul, mas sim o futebol, o maruím, a muriçoca, a frieira e a espinhela-caída –; ou seja ainda no candomblé, através do qual se vinga do burguês antropofágico Venceslau Pietro Pietra (Jardel Filho), é o Brasil que está a desfilar na nossa frente em sua forma mais autêntica e corajosa.




Na sexta-feira...

Curtas-metragens: CLÁSSICOS E MODERNOS
Esta seleção apresenta obras assinadas por importantes nomes da cinematografia brasileira, como o mestre pioneiro Humberto Mauro. Estão presentes também o cinemanovista Joaquim Pedro de Andrade e um dos diretores mais aclamados da atualidade, Jorge Furtado, além do paraibano Linduarte Noronha e do carioca Joaquim Assis, responsáveis por dois clássicos do documentário nacional.
Tempo total: 85 minutos.


:: ARUANDA
De Linduarte Noronha
(PB, 1960, doc, pb, 22 minutos)
A história de um quilombo, formado em meados do século XIX, por escravos libertos no sertão da Paraíba. O filme, da mesma época da inauguração de Brasília, mostra uma pequena população, isolada das instituições do país, presa a um ciclo econômico trágico e sem perspectivas, variando do plantio de algodão à cerâmica primitiva. O curta é considerado um dos precursores do Cinema Novo.

:: A VELHA A FIAR
De Humberto Mauro
(RJ, 1964, fic, pb, 6 minutos)
Ilustração da antiga canção popular do interior do Brasil, utilizando tipos e costumes das velhas fazendas em decadência.

:: Ô XENTE, POIS NÃO
De Joaquim Assis
(PE/RJ, 1973, doc, cor, 22 minutos)
Ô xente, pois não é um documentário sobre lavradores da localidade de Salgadinho, perto de Garanhuns, em Pernambuco. Resultou essencialmente de longas e livres conversas, durante cerca de 15 dias, com aproximadamente dez famílias que lutavam contra toda sorte de dificuldades, entre elas a seca. O filme tenta passar ao espectador a sabedoria das pessoas em questão e a fraternidade que as unia. Do ponto de vista formal, Ô xente, pois não é um entrelaçamento musical das falas daquela gente com as imagens de seu cotidiano.

:: BRASÍLIA: CONTRADIÇÕES DE UMA CIDADE NOVA
De Joaquim Pedro de Andrade
(DF/RJ, 1967, doc, cor, 23 minutos)
Imagens de Brasília em seu sexto ano e entrevistas com diferentes categorias de habitantes da capital. Uma pergunta estrutura o documentário: uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?

:: ILHA DAS FLORES
De Jorge Furtado
(RS, 1989, doc, cor, 12 minutos)
Um tomate é plantado, colhido, transportado e colocado à venda num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. Ilha das Flores segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos.


Data: Sexta, 5 de setembro
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23:00

ENTRADA FRANCA



CICLOS DE UMA VIDA PRIMITIVA
Por Marcelo Miranda

A idéia de um ciclo sem fim parece ser a sina dos problemas do Brasil. Tudo começa num ponto crítico para, após várias voltas, retornar ao mesmo ponto crítico, e assim indefinidamente. Este programa Clássicos e Modernos reúne cinco curtas-metragens seminais no desenvolvimento do cinema brasileiro, mas vai além: serve de ilustração para o tal ciclo, ao qual o povo do país está sujeito. Cada cineasta aqui presente, a seu modo, lida com a noção de que a população em geral vive em universos próprios, alheia da riqueza e largada das políticas sociais. “Uma vida primitiva”, fala-se em Aruanda.

Justamente Aruanda (1960), de Linduarte Noronha, talvez seja a súmula de todos eles. Precursor do Cinema Novo, influenciador de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, o paraibano Noronha foi atrás de antigas comunidades negras do interior do seu Estado. Em imagens de forte poder lírico e simbólico, o filme acompanha o êxodo de uma família e seu recomeço – desde a construção da nova casa até a fabricação de objetos em cerâmica, momentos desde sempre antológicos. Aqui, a idéia de ciclo já aparece: os personagens saem de um ambiente e fixam-se em outro apenas por sobrevivência, pois tudo continuará igual.

A velha a fiar (1964) é o menos politizado dos filmes, o que não significa que seja indiferente à realidade que retrata. Utilizando com maestria a cantiga que dá título ao curta, o mineiro Humberto Mauro faz uma brincadeira sucinta e direta para falar sobre a insistência do sertanejo e do povo humilde naquilo em que acreditam. Por mais que haja fatores externos a atrapalhar, sempre haverá a luta – tudo mostrado por Mauro num exercício de montagem de incrível e irresistível empatia.

Por outro lado, Brasília: contradições de uma cidade nova (1967), do carioca Joaquim Pedro de Andrade, vai diretamente ao centro do poder nacional tentar entender esse mistério chamado Brasil. Na então recém-inaugurada capital, o diretor realiza o inventário do que seja Brasília naquele momento histórico – isso, a partir do olhar de quem se mudou para lá acreditando numa vida mais promissora. É filme de investigação, que parte de uma questão ainda não muito clara (Brasília é um retrato do Brasil?) para perceber que, naquele lugar tão milimetricamente planejado, está fincada boa parte das contradições aludidas no título do curta.

Ô xente, pois não, de Joaquim Assis, guarda sua força no discurso de trabalhadores rurais de Pernambuco em choque com as imagens captadas pela câmera. As falas completam o registro, e o registro completa as falas, nos planos detalhados dos trabalhadores em questão. É o filme que mais diretamente transmite outra noção muito precisa dos demais no programa: personagens em conflito com os ambientes onde vivem. É um enfrentamento contínuo contra as adversidades surgidas por ações externas e pelo contexto político, econômico e social no qual essas pessoas estão inseridas.

É o que ainda se vê em Ilha das Flores (1989), do gaúcho Jorge Furtado. Por uma linguagem hoje tornada pop pelo próprio realizador (cujo filme mais famoso é O homem que copiava), o curta parte de um conceito de humor e vai, literalmente, adentrar nas entranhas de uma comunidade que vive do lixo em Porto Alegre. O filme parece exalar um certo ar de pós-modernidade com ânsia de atingir a quem o vê através das fragilidades e contradições do próprio espectador. É um ponto de chegada curioso para um ciclo iniciado no interior da subdesenvolvida Paraíba (Aruanda) e finalizado na periferia da moderna Porto Alegre (Ilha das Flores).




Fique ligado nos próximos filmes:

qui 11/09 (anexo) – “Durval Discos” e “A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti”

sex 12/09 (cinema) – Curtas-metragens: Animações


qui 18/09 (anexo) – “Samba Riachão” e “O catedrático do samba”

sex 19/09 (cinema) – Curtas-metragens: Cine Samba 2


qui 25/09 (anexo) – “O Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas” e “O último raio de sol”

sex 26/09 (cinema) – Curtas-metragens: Violência Urbana





O ComCine UFOP

Criado em 2004, o ComCine – Comitê de Cinema da Universidade Federal de Ouro Preto, é um grupo formado por pessoas de diversas áreas da universidade (alunos, professores e funcionários) e também da comunidade externa, reunidos todos pela admiração ao cinema. Seu principal objetivo é servir como fórum de discussão sobre o audiovisual, considerando a sua produção, circulação e recepção. Trabalha levando o melhor do cinema às pessoas, num processo de formação de público e olhar crítico. Em 2006, o Conselho Universitário (CUNI) aprovou seu regimento interno, reconhecendo-o como espaço privilegiado de discussão e deliberação sobre o audiovisual na UFOP.

Entre suas atividades, destacamos a curadoria da área de Artes Visuais (cinema, vídeo, fotografia) do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2007 e 2008, além da elaboração de mostras regulares ao longo do ano, compostas por filmes temáticos e alternativos, em sessões gratuitas e, por vezes, itinerantes, nestas mesmas cidades.

As reuniões são abertas a todos os interessados, para, entre uma discussão e outra, planejar mostras gratuitas, sugerir filmes para a programação do Cine-Teatro Vila Rica – o qual faz parte do patrimônio da UFOP – e criar novas idéias para estimular a comunidade a interessar-se por esta que é chamada a Sétima Arte.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pessoal, achei ótima a programação, mas gostaria de sugerir, mesmo sabendo que talvez não seja possível por N motivos, que os eventos como esses pudessem ser realizados no fim de semana, pois eu, por exemplo, estudo no período noturno, além do curso ser em Mariana.
Valeu pela atenção.
Felipe - Jornalismo

Anônimo disse...

Greetings from Carolina! I'm bored to tears at work so I decided to browse your website on my iphone during lunch break. I love the knowledge you present here and can't wait to
take a look when I get home. I'm shocked at how quick your blog loaded on my cell phone .. I'm not even using WIFI, just 3G .
. Anyways, amazing site!

Here is my blog; freephorn videos

Anônimo disse...

You really make it seem so easy with your presentation but I find this matter
to be actually something which I think I would never understand.
It seems too complex and extremely broad for me.
I'm looking forward for your next post, I'll try to get the hang of it!



Review my site www.porn-selection.com