O Comitê de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a programação do Cineclube ComCine deste segundo semestre de 2008. Todas as sessões são gratuitas, com filmes da Programadora Brasil – Central de Acesso ao Cinema Brasileiro.
No mês de outubro, o Cineclube ComCine exibe em cada sexta-feira um curta-metragem, seguido de um longa.
Nesta semana:
“O Sanduíche” e “Por Trás do Pano” são produções contemporâneas premiadas em diversos festivais Brasil afora, que apresentam o questionamento da arte e denunciam os seus meios de produção por meio da metalinguagem e com uma abordagem humorística. As relações humanas dentro e fora de cena confundem-se em ambos os filmes para, no próximo momento, surpreenderem o espectador.
:: O SANDUÍCHE
De Jorge Furtado
(RS, 2000, fic, cor, 13 minutos)
[CURTA] Os últimos momentos de um casal, a hora da separação. Mas o fim de alguma coisa pode ser o começo de outra. Outro casal, os primeiros momentos, a hora da descoberta. Encontros, separações e um sanduíche. No cinema, o sabor está nos olhos de quem vê.
:: POR TRÁS DO PANO
De Luiz Villaça
(SP, 1999, fic, cor, 90 minutos)
[LONGA] Na São Paulo de hoje, cinco pessoas muito especiais vivem suas histórias por trás do pano. Helena, uma jovem atriz em ascensão, com muito talento e insegurança, é convidada para viver o grande desafio de sua carreira. Ela é casada com Marcos, um artista plástico que brinca o tempo todo com os medos e os jogos de ciúme de sua mulher. A partir do momento em que Helena começa a se relacionar com Sérgio, um diretor e ator famoso, casado com Laís, um arquiteta bonita e ciumenta, as vidas dos dois casais se misturam e eles passam a viver momentos de dúvidas, de humor e descobertas.
Data: Sexta, 24 de outubro
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23:00
ENTRADA FRANCA
O ETERNO ENSAIO DA VIDA
Por Rodrigo Grota
Raro exemplo de um cinema brasileiro que dialoga com o público sem deixar de ser reflexivo, “Por trás do Pano”, de Luiz Villaça, tem também outra proeza: atinge o sublime de forma leve, vôo rasteiro (sem cicatrizes). Um retrato suave dos bastidores do teatro (e da vida).
Produzido em 1999, o filme se insere em uma fase profícua do cinema brasileiro – período apressadamente batizado de "retomada", e que inclui produções a partir de 1994 financiadas por meio de incentivos fiscais. A temática se aproxima de duas obras magistrais: “Opening Night”, de John Cassavetes; e “All About Eve”, de Joseph L. Mankiewicz.
Impressionado pelo êxito de sua ex-parceira Alexandra (Ester Góes) ao encenar Macbeth, o diretor e ator de teatro Sérgio (Luís Melo) parte em busca de uma atriz para um dos papéis mais complexos na história da dramaturgia. Sim, Lady Macbeth. Encontra a jovem Helena (Denise Fraga): atriz ainda amadora, talentosa, casada com Marcos (Pedro Cardoso).
Villaça compõe um painel duplo: a vida é mostrada em seus momentos de transe – incertezas, confissões, arrependimentos. O teatro se efetiva como palco sagrado, exclusivo para os grandes temas. Os rituais se confundem: na vida, a rotina passa a ser vista como um eterno ensaio sem previsão de estréia; no palco, o que em princípio seria uma representação do mundo revela as fraquezas e virtudes reais dos personagens. O drama vivido em Macbeth encontra paralelos no drama de Sérgio e Helena. A figura feminina é elemento decisivo nos dois contextos.
Esta mistura, alma do filme, é claramente expressa na abordagem visual empregada. Os cenários das casas de Helena e Sérgio são propositalmente ficcionais. A câmera está sempre de um lado: a dos espectadores. As lembranças surgem como filmes projetados ao fundo. A iluminação não é realista. Tudo é concebido para mostrar que nada daquilo é verdadeiro, e sim, uma representação.
A linguagem gera uma espécie de contradição positiva para o filme: quanto mais se assume a concepção da arte enquanto “representação” do mundo, mais o filme se torna autêntico. Como se a vida chegasse mais forte na medida em que ela também é encarada como mera representação. Enfim: “a vida é um palco e estamos todos a representar”.
Este tipo de abordagem cria cumplicidade com o púbico: ambos (narrador e espectador) se tornam observadores de um drama. Drama, aliás, realçado pela comovente e equilibrada interpretação de Denise Fraga. Assim como Gena Rowlands e Bette Davis, Denise tem um encanto secreto, uma espécie de magia mesmo, que torna cada gesto especial. Sua atuação é sempre verdadeira, transparente (algo raro).
Mantendo a temática da “representação”, este programa traz também o curta “O Sanduíche”, de Jorge Furtado. Conhecido pelos seus roteiros extremamente inventivos e ágeis, o cineasta gaúcho também já foi exemplo de um cinema que dialoga com o público sem se submeter a convenções. Autor de preciosidades como “Ilha das Flores”, Furtado conta aqui a história de um homem que está deixando sua mulher. Para manter as surpresas do filme, nada mais deve ser dito sobre a trama. A proposta, aliás, está em sintonia com a linguagem de “Por Trás do Pano”: confundir representação e realidade, ressaltando a idéia de que na nossa vida tudo é mesmo muito misturado (homenagem indireta a Guimarães Rosa, aliás).
Próximos filmes do Cineclube ComCine em outubro (curtas & longas):
sex 31/10 – Rua do Amendoim / Amor & Cia
No mês de outubro, o Cineclube ComCine exibe em cada sexta-feira um curta-metragem, seguido de um longa.
Nesta semana:
“O Sanduíche” e “Por Trás do Pano” são produções contemporâneas premiadas em diversos festivais Brasil afora, que apresentam o questionamento da arte e denunciam os seus meios de produção por meio da metalinguagem e com uma abordagem humorística. As relações humanas dentro e fora de cena confundem-se em ambos os filmes para, no próximo momento, surpreenderem o espectador.
:: O SANDUÍCHE
De Jorge Furtado
(RS, 2000, fic, cor, 13 minutos)
[CURTA] Os últimos momentos de um casal, a hora da separação. Mas o fim de alguma coisa pode ser o começo de outra. Outro casal, os primeiros momentos, a hora da descoberta. Encontros, separações e um sanduíche. No cinema, o sabor está nos olhos de quem vê.
:: POR TRÁS DO PANO
De Luiz Villaça
(SP, 1999, fic, cor, 90 minutos)
[LONGA] Na São Paulo de hoje, cinco pessoas muito especiais vivem suas histórias por trás do pano. Helena, uma jovem atriz em ascensão, com muito talento e insegurança, é convidada para viver o grande desafio de sua carreira. Ela é casada com Marcos, um artista plástico que brinca o tempo todo com os medos e os jogos de ciúme de sua mulher. A partir do momento em que Helena começa a se relacionar com Sérgio, um diretor e ator famoso, casado com Laís, um arquiteta bonita e ciumenta, as vidas dos dois casais se misturam e eles passam a viver momentos de dúvidas, de humor e descobertas.
Data: Sexta, 24 de outubro
Local: Cine-Teatro Vila Rica
Hora: 23:00
ENTRADA FRANCA
O ETERNO ENSAIO DA VIDA
Por Rodrigo Grota
Raro exemplo de um cinema brasileiro que dialoga com o público sem deixar de ser reflexivo, “Por trás do Pano”, de Luiz Villaça, tem também outra proeza: atinge o sublime de forma leve, vôo rasteiro (sem cicatrizes). Um retrato suave dos bastidores do teatro (e da vida).
Produzido em 1999, o filme se insere em uma fase profícua do cinema brasileiro – período apressadamente batizado de "retomada", e que inclui produções a partir de 1994 financiadas por meio de incentivos fiscais. A temática se aproxima de duas obras magistrais: “Opening Night”, de John Cassavetes; e “All About Eve”, de Joseph L. Mankiewicz.
Impressionado pelo êxito de sua ex-parceira Alexandra (Ester Góes) ao encenar Macbeth, o diretor e ator de teatro Sérgio (Luís Melo) parte em busca de uma atriz para um dos papéis mais complexos na história da dramaturgia. Sim, Lady Macbeth. Encontra a jovem Helena (Denise Fraga): atriz ainda amadora, talentosa, casada com Marcos (Pedro Cardoso).
Villaça compõe um painel duplo: a vida é mostrada em seus momentos de transe – incertezas, confissões, arrependimentos. O teatro se efetiva como palco sagrado, exclusivo para os grandes temas. Os rituais se confundem: na vida, a rotina passa a ser vista como um eterno ensaio sem previsão de estréia; no palco, o que em princípio seria uma representação do mundo revela as fraquezas e virtudes reais dos personagens. O drama vivido em Macbeth encontra paralelos no drama de Sérgio e Helena. A figura feminina é elemento decisivo nos dois contextos.
Esta mistura, alma do filme, é claramente expressa na abordagem visual empregada. Os cenários das casas de Helena e Sérgio são propositalmente ficcionais. A câmera está sempre de um lado: a dos espectadores. As lembranças surgem como filmes projetados ao fundo. A iluminação não é realista. Tudo é concebido para mostrar que nada daquilo é verdadeiro, e sim, uma representação.
A linguagem gera uma espécie de contradição positiva para o filme: quanto mais se assume a concepção da arte enquanto “representação” do mundo, mais o filme se torna autêntico. Como se a vida chegasse mais forte na medida em que ela também é encarada como mera representação. Enfim: “a vida é um palco e estamos todos a representar”.
Este tipo de abordagem cria cumplicidade com o púbico: ambos (narrador e espectador) se tornam observadores de um drama. Drama, aliás, realçado pela comovente e equilibrada interpretação de Denise Fraga. Assim como Gena Rowlands e Bette Davis, Denise tem um encanto secreto, uma espécie de magia mesmo, que torna cada gesto especial. Sua atuação é sempre verdadeira, transparente (algo raro).
Mantendo a temática da “representação”, este programa traz também o curta “O Sanduíche”, de Jorge Furtado. Conhecido pelos seus roteiros extremamente inventivos e ágeis, o cineasta gaúcho também já foi exemplo de um cinema que dialoga com o público sem se submeter a convenções. Autor de preciosidades como “Ilha das Flores”, Furtado conta aqui a história de um homem que está deixando sua mulher. Para manter as surpresas do filme, nada mais deve ser dito sobre a trama. A proposta, aliás, está em sintonia com a linguagem de “Por Trás do Pano”: confundir representação e realidade, ressaltando a idéia de que na nossa vida tudo é mesmo muito misturado (homenagem indireta a Guimarães Rosa, aliás).
Próximos filmes do Cineclube ComCine em outubro (curtas & longas):
sex 31/10 – Rua do Amendoim / Amor & Cia
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