quarta-feira, 19 de novembro de 2008

TUDO BEM

O Comitê de Cinema da UFOP (ComCine), a Pró-Reitoria de Extensão da UFOP (ProEx), o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC/UFOP) e o Cine-Teatro Vila Rica apresentam a programação do Cineclube ComCine do final deste ano. Todas as sessões são gratuitas, com filmes da Programadora Brasil – Central de Acesso ao Cinema Brasileiro.




Nesta semana:


Concentrado num apartamento de Copacabana em reformas, e abordando o conflito de classes com humor corrosivo e surrealista, Tudo bem sintetiza as mazelas do país e assimila com brilho e inspiração influências do cineasta Luis Buñuel e do escritor Nelson Rodrigues. O filme, grande vencedor do Festival de Brasília, conta com elenco de primeira linha – com destaque para Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro e Zezé Motta – e ótima trilha sonora que mistura cânticos do Alto Xingu a Giuseppe Verdi e Igor Stravinsky.



:: TUDO BEM

De Arnaldo Jabor

(RJ, 1978, fic, cor, 110 minutos)


Uma família de classe média do Rio de Janeiro decide reformar o apartamento para o noivado da filha, que só pensa em se casar. O pai é funcionário público aposentado e perdeu o interesse pela mãe, que sofre com a rejeição. O filho é um executivo oportunista. Duas empregadas domésticas completam o quadro de moradores, que têm seu cotidiano totalmente alterado com a chegada dos trabalhadores. Em meio às obras, todos os habitantes desse microcosmo de conflitos sociais vão revelando suas particularidades.



Data: Sexta, 21 de novembro

Local: Cine-Teatro Vila Rica

Hora: 23:00


ENTRADA FRANCA






O PAÍS NA SALA DE JANTAR

Por Marcus Mello



Expoente da segunda fase do Cinema Novo, Arnaldo Jabor iniciou sua carreira como documentarista com o excelente Opinião Pública (1967), mas é na ficção que este diretor carioca nascido em 1940 vai encontrar sua verdadeira vocação. Entre o início dos anos 1970 e a primeira metade dos anos 1980, Jabor produziu uma série de filmes marcantes, combinando um forte traço autoral com uma ampla capacidade de comunicação com as platéias. Se o alegórico Pindorama (1973), sua estréia na ficção, desagradou tanto à crítica quanto ao público, a recuperação viria com Toda a nudez será castigada (1973) e O casamento (1978), vigorosas adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues, que asseguraram uma consagração imediata ao então jovem diretor (admiração compartilhada pelo próprio Nelson Rodrigues).


Tudo bem (1978) dá início a um tríptico de filmes, conhecido como a “Trilogia do apartamento”, que teria continuidade com Eu te amo (1980) e Eu sei que vou te amar (1984). Trata-se de um projeto ambicioso, e muito bem-sucedido, visto por inúmeros críticos como a obra-prima de Jabor. A trama acompanha os percalços de uma família de classe média envolvida na reforma de seu apartamento em Copacabana. O pai, o funcionário público aposentado Juarez Barata (Paulo Gracindo), a esposa insatisfeita sexualmente (Fernanda Montenegro), a filha que só pensa em casar (Regina Casé), o filho meio cafajeste (Luiz Fernando Guimarães) e as duas empregadas domésticas da casa (Maria Sílvia e Zezé Motta) têm seu cotidiano alterado pela convivência com o grupo de operários contratados para a obra.


A partir dessa situação até certo ponto banal, Jabor desenha um retrato desconcertante do Brasil, desnudando nossas idiossincrasias e contradições mais profundas. O aspecto alegórico está presente o tempo inteiro, mas sem prejuízo da comunicabilidade, alcançada pela mistura de situações cômicas e absurdas apresentadas pelo roteiro, assinado por Leopoldo Serran em parceria com Jabor, que dialoga diretamente com o universo de Nelson Rodrigues.


A exemplo de alas de uma escola de samba que elegesse como tema as misérias nacionais - a alienação da classe média, o sincretismo religioso, o apartheid social, a invasão do capital estrangeiro, a ressaca do Milagre Econômico, o gosto pela corrupção -, os dramas do País vão desfilando entre as quatro paredes do apartamento da família Barata, num esforço totalizante que procura oferecer ao espectador, através do cinema, uma interpretação do Brasil.


Verborrágico e excessivo, Tudo bem pode ser visto como uma ópera barroca sobre um país de alma doente. O risco de resvalar para a teatralidade, facilitado pela situação de confinamento dos personagens, no entanto, é evitado pela encenação sofisticada de Jabor, que conta ainda a seu favor com o auxílio de um elenco notável de atores, provavelmente o melhor já reunido numa produção brasileira.

Próximos filmes do Cineclube ComCine em 2008:



sex 28/11 – A Lira do Delírio (de Walter Lima Jr.)


sex 05/12 – O Homem que Virou Suco (de João Batista de Andrade) e A Saga da Asa Branca (de Lula Gonzaga)

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